As melhores novidades de autores italianos que precisas de ler em 2024
Toda a vida que resta
O fenómeno literário do ano em Itália
Toda a vida que resta é um romance precioso e íntimo, que explora os mecanismos da vergonha e do luto, mas sobretudo do carinho e do cuidado, trazendo-os à tona com uma delicadeza surpreendente.
No encantador cenário de Roma dos anos 50, Marisa e Stelvio apaixonam-se e constroem uma família com muito amor, a lembrar os clássicos do cinema a preto e branco. Mas o seu mundo é arrasado por uma tragédia: a sua amada filha Betta, de 16 anos, é assassinada. Todos perdem o chão. O carinho e a cumplicidade desaparecem e fica apenas a dor e a mágoa por uma filha que se perdeu para sempre.
Miriam, a prima tímida e introvertida de Betta, não só presenciou a sua morte, como também ela foi, nesse dia, vítima de uma violência indescritível. Mas carregou sozinha o fardo desse terrível segredo. Quando julgava ser incapaz de continuar, encontra Leo, um jovem dos subúrbios, que traz uma nova luz à sua vida: o início de um amor que irrompe onde ninguém ousara olhar.
A Água do Lago Nunca É Doce
Gaia nasce e cresce pobre, ao lado dos marginalizados, dos que não importam, dos que nada têm. Aos seis anos mora num subúrbio problemático de Roma. Partilha uma casa minúscula com a mãe, Antonia, uma ruiva otimista e forte, o pai, que trabalhava nas obras até cair de um andaime e ficar paralítico, e os três irmãos. o mais velho, Mariano, é de um pai diferente, e os gémeos, mais novos, dormem num caixote de cartão.
É com esperança num futuro melhor que a família se muda para um apartamento a trinta quilómetros da capital italiana, perto do lago Bracciano. Mas a nova morada revela-se igualmente hostil para Gaia, que ali se vai fazendo mulher, enfrentando diariamente uma vida que a agride e dececiona - ao ponto de lhe matar a capacidade de sonhar, ou pelo menos de desejar "não ser menos do que ninguém", como a sua mãe insiste em repetir.
Ao contrário de Antonia, que carrega o mundo aos ombros sem nunca esmorecer, Gaia enfrenta a pobreza e a humilhação com sucessivas vagas de ódio - contra tudo e todos, até contra si própria, que a afastam de qualquer hipótese de fuga ou redenção. Em A Água do Lago Nunca É Doce, finalista do prémio Strega 2021, Giulia Caminito escreve sem rodeios sobre uma realidade incómoda. Num estilo ousado, direto e austero, expõe as hipocrisias da sociedade através de uma protagonista inquietante, cuja fúria parece capaz de rasgar o cenário de águas turvas, onde ela, e muitos outros, anónimos, (ainda) sobrevivem.
As Perfeições
Anna e Tom, jovem casal de nómadas digitais, recém-chegados a Berlim, acreditam levar uma vida invejável: um trabalho criativo de que gostam, um apartamento cuidadosamente decorado com objetos de design, amigos interessantes, uma relação sexual aberta e serões que terminam na manhã seguinte. Tudo aquilo com que sonharam. No entanto, por detrás desta imagem de «perfeição» nasce uma insatisfação tão profunda quanto difícil de compreender. Os anos passam. O trabalho torna-se repetitivo, a vida social monótona. A cidade já nada tem de novo para lhes oferecer. Anna e Tom sentem-se presos e atormentados por encontrar algo mais real e genuíno. Resta-lhes perseguir noutro lugar esse sonho de autenticidade que lhes parece fugir.
Um dos romances mais aclamados da literatura italiana contemporânea, As Perfeições é o retrato magistral, fiel e desencantado de uma inteira geração, uma parábola das nossas vidas assediadas pelas imagens das redes sociais e da procura por uma autenticidade cada vez mais frágil e rara.
Eva Dorme
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