top of page

Os hábitos de leitura e influenciadores




No jornal Expresso saiu um texto, no dia 19 de dezembro, de autoria de Regina Duarte sobre os hábitos de leitura e mercado literário. O título da notícia é "Há uma resistência à leitura ou uma resistência da leitura?". Achei interessante trazer para o meu site este tema e posicionar-me.


A jornalista aborda diversos temas à volta do papel da leitura no ser humano.


"Apesar das distrações que o mundo digital nos trouxe, e das mudanças nas dinâmicas sociais, os livros continuam a desempenhar um papel insubstituível como portal para o conhecimento, a imaginação e a empatia."


Reconhecemos os benefícios da leitura, sobretudo no mundo das distrações. E felizmente a geração mais nova está a ler por causa da criação de comunidades nas diversas redes sociais. As notícias denunciam um saldo positivo nas vendas e aumento de leitores.


Recordo que a comunidade literária nasce no Youtube em 2012. Com o surgimento das outras redes sociais como o Tik Tok e o Instagram aumentou significativamente o número de criadores de conteúdo.


A comunidade portuguesa do Bookutube atravessou anos mais difíceis na popularização da leitura, mas manteve-se firme, criando projetos de leitura e grupos de leitura. Nunca teve apoio das editoras e fez um trabalho árduo na conquista do seu espaço na divulgação da leitura. Eu estava lá, em 2012 a gravar vídeos no meu quarto e havia apenas mais um canal (inesbook). A realidade começa a mudar ligeiramente em 2018, revelando-se um crescimento drástico durante a pandemia, quando as pessoas ficam em casa, mudam os seus hábitos e estão mais tempo no telemóvel.


"Jovens habituados a um ecossistema de vídeos de 30 segundos têm demonstrado um interesse crescente pelos livros."


Há um aumento das vendas dos livros famosos como "Isto Acaba Aqui" e "Trono de Vidro" por causa da comunidade do Tik Tok. Clássicos como "1984", "O Monte dos Vendavais", "O Grande Gatsby", "Mataram a Cotovia" e "Orgulho e Preconceito são reeditados em várias editoras. Surpreendentemente há interesse entre os livros famosos do tik tok e os clássicos.


Sempre foi assim, desde o surgimento do Booktube, agora mais notório com redes sociais, e um trabalho empenhado entre criadores de conteúdo e editoras na divulgação dos livros. Os leitores sempre dividiram o seu interesse literário entre as novidades e alguns clássicos. Basta olharmos para o top de vendas.


Os interesses literários não são influenciados apenas pelo conteúdo viral, podemos verificar que livros como "Ensaio sobre a cegueira" (Saramago) e "A Peste" (Alberto Camus) tiveram uma enorme procura devido ao fenómeno viral chamado Covid. O trabalho de outros criadores de conteúdo como podcasters ou influenciadores, contratados por grandes editoras, basta indicarem um determinado livro para este aumentar as suas vendas. As editoras deviam continuar a apostar em criadores de conteúdo para mostrarem os livros que estão a ser publicados. Com tantos lançamentos é necessário uma filtragem através dos estilos e tipos de leitores.


O trabalho inicial do Booktube contribuiu bastante para o desenvolvimento destas comunidades e não pode ser esquecido. Através de vídeos longos e profundos a leitura é abordada de outra forma, levando um aumento na criação de novos leitores e hábitos de leitura.


As pessoas estão cada vez mais viciadas em redes sociais. Por consequência, contraditoriamente, mais pessoas são influenciadas a ler. Os livros publicados para camadas mais jovens abordam temas com as quais se identificam e gostam de falar. Livros ligam pessoas.


"Podemos aceitar as premissas de que ler qualquer livro é melhor do que não ler, e de que ler muito, mesmo que literatura “fácil”, possa ser um portal para outras leituras."


Estão a chegar novos leitores. Depois de adquiridos hábitos de leitura há uma necessidade natural por parte de alguns leitores para passar ao nível seguinte, a leitura de clássicos e textos mais complexos. Eu acho que não devemos criar um fosso entre os clássicos e os contemporâneos. O interesse é mutuo, os hábitos de leitura.


Os meios justificam os fins. Não vamos responsabilizar apenas os criadores de conteúdo pelas escolhas dos leitores. A responsabilidade das escolhas são dos leitores e das ofertas das editoras. O marketing das editoras também influencia as vendas. Os livros enviados para os criadores de conteúdo, os eventos em volta dos livros. Quais são os livros mais publicados? Quais são os livros que recebem mais atenção por parte das editoras? Quais são os livros que os leitores procuram? O trabalho nas escolas? Os professores têm hábitos de leitura? Gostam de ler? Promovem o gosto pela leitura através dos seus hábitos?


Olharmos para os conteúdos virais como algo negativo é rejeitarmos o potencial das redes sociais no alavancar das vendas. O melhor é criar uma relação entre todos para criar hábitos de leitura.






Comments


IMG_4950.jpg

Cláudia Benedy

É autora de romances. Viciada em bibliotecas e livrarias. Nasceu em 1985, em Vila Franca de Xira. Vive em Alenquer, mãe de quatro filhos. 

bottom of page